Wikipedia

Resultados da pesquisa

3 de jun. de 2008

Censura da Justiça

Morre escritor que inspirou o filme 'Bicho de sete cabeças'
O autor em protesto contra a sua condenação pela justiça do Paraná. De vítima passou a réu e foi condenado a retirar o livro de circulação.
Falecido dia 27/05/2008, aos 51 anos, leia artigo do escritor Austregésilo Carrano Bueno(foto), autor do livro que deu origem ao premiado filme "O Bicho de Sete Cabeças", publicado pela NovaE em jullho de 2003, em ocasião da sua luta jurídica contra os responsáveis pelo violento tratamento psiquiátrico que sofreu dos 17 até quase os 21 anos.
Carrano foi autor do livro "Canto dos Malditos"(leia aqui), no qual narrou abusos psiquiátricos dos quais foi vítima na juventude em centros de internação de Curitiba e do Rio.
O filme "Bicho de Sete Cabeças" (2001) foi dirigido por Laís Bodanzky e protagonizado pelo ator Rodrigo Santoro. Bodanzky conversou com a Folha Online e lamentou a morte do escritor.
"Creio que vai ficar a imagem de uma pessoa muito corajosa que expôs uma experiência triste e dolorosa que muitos esconderiam, devido ao preconceito. Mesmo sabendo que seria perseguido e taxado como alguém que foi internado em centro psiquiátrico, ele foi em frente com a intenção de fazer um grande alerta. Para mim, vai ficar a imagem de um homem que não teve medo de encarar a vida de frente", declarou.

Leia o artigo do autor no qual relata o mais absurdo: a condenação na justiça do estado do Paraná, do lado dos torturadores e do Lobby da Psiquiatria, por denunciar os horrores a que foi submetido em “clínicas psiquiátricas”. (Artigo publicado na NovaE originalmente em julho de 2003)

"Estou condenado a indenizar meus torturadores"
Austregésilo Carrano Bueno

Ao lançar o meu livro "Canto dos Malditos", (base do filme BICHO DE SETE CABEÇAS de Lais Bodanski) biográfico do período que estive internado durante três anos e meio, dos 17 anos até quase os 21 anos, em quatro chiqueiros psiquiátricos brasileiros, já imaginava que estava comprando uma guerra. Guerra injusta, pois iria enfrentar pessoas poderosas financeiramente e que possuem até os dias de hoje um grande poder de ser intocáveis perante a Lei da sociedade brasileira.
E na comunidade em que convivo são de famílias poderosas que têm influência e poderes irrestritos no jurídico, legislativo e nos poderes executivos. E também são profissionais da área da saúde mental, que adquiriram poderes magistrais graças a uma ignorância quase generalizada de uma sociedade que sempre se colocou como omissa a tanta crueldade e violência que são praticadas dentro das nossas instituições psiquiátricas.

Violências das mais cruéis que chegam a inutilizar pessoas; condenação a passar o resto de seus dias dentro dessas instituições; milhares foram e são torturadas, mortas sem o menor senso de responsabilidade até hoje. Somos currados em todos os direitos de cidadão pela omissão social e desleixos profissionais que nos usam até como cobaias humanas, em suas prisões intituladas de Instituições Psiquiátricas e vulgarmente chamadas de Hospícios. Nos tiram a razão, nos transformando em bestas humanas onde não sabemos mais quem e o que somos, na forma de uma dupla prisão: física e química. E quando chega um livro escrito de dentro dessas instituições para fora delas, relatando uma verdade insofismável, pois basta apenas fazer uma visita surpresa a qualquer instituição do gênero para constatarmos esta nua, violenta e criminosa realidade.

O que esta sociedade omissa permite fazer? Cassar o livro, com alegações fajutas de injuria e calúnia a esses profissionais que são já condenados pela ética, e por suas próprias ações de desleixos e torturas com seus pacientes. Basta um pouco de conhecimento sobre o histórico recente dessas instituições psiquiátricas que são verdadeiros depósitos de pessoas altamente drogadas, confinadas, torturadas. E muitas são abandonadas pela própria família e omissão social. Verdadeiros crimes contra o cidadão e a humanidade. E quando alguém traz à tona esta verdade palpável, visível a olho nu, basta querer e ter a sensibilidade e senso de humanidade para deixar de se fazer de desentendidos e coniventes.

O que esta sociedade omissa permite fazer? Condenam o escritor e ex-paciente psiquiátrico a ser condenado mais uma vez. Estou condenado a pagar sessenta mil reais aos meus torturadores, nunca tive tamanha quantia de dinheiro em minha vida, mas eles querem essa indenização estipulada pelo Tribunal de Justiça do Paraná, pois eles são intocáveis e isentos de dúvidas sobre qualquer de suas ações.

Esta isenção patrocinada e comprada vergonhosa e abertamente pelo poder econômico dessas famílias e de profissionais psiquiatras que se sentem ameaçados por esta verdade que o livro mostra. Mas o que mais dói é a omissão social que com este ato se tornam coniventes com essas ações de confinar, drogar e torturar pessoas. Pois sabemos que confinar, prender pessoas e drogá-las não é tratamento e sim tortura das mais cruéis e dignas de punições jurídicas, ou seja, cadeia.

Em sociedades de países já com algum avanço nesta área da psiquiatria, já tem casos de condenações de profissionais por seqüelas, traumas, torturas psiquiátricas e suicídios de pacientes, inclusive com altas indenizações financeiras para as vítimas. Por que na sociedade brasileira estas graves questões são deixadas de lado, e a sociedade se mostra conivente com ações que são crimes, e dificultam a apuração de responsabilidades até nos meios jurídicos brasileiros, por quê? Agora quando alguém declara abertamente e cobra essas responsabilidades, até acorrentando-se em protestos em frente aos Tribunais Judiciais estadual e federal, tentando chamar a atenção para esses crimes, o que a sociedade brasileira faz?
Vão julgá-lo agora mais uma vez. Toda a vez que falar de sua sina de tortura, aviltação, humilhação, risco de vida, por ter seus estudos e formação profissional interrompidos pelo erro grosseiro que foi a sua internação. Submetido ao mais violento tratamento psiquiátrico que é a eletro- convulsoterapia, que foram 21 eletrochoques aplicados a seco, como experiência humana numa voltagem de 180woltz a 460woltz aplicado nas têmporas, onde deixaram seqüelas físicas e traumas psicológicos. Toda a vez que eu mencionar essas torturas e os nomes dos hospitais psiquiátricos, da Federação Espírita do Paraná que é dona de um desses hospitais, o nome dos médicos-psiquiatras que me torturaram, exigem R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por dia de indenização, ou que eu seja preso em cadeia comum. Serei julgado pela terceira vez no dia 23 de maio de 2003, as 14:30 horas na 5º Vara Civil do Fórum de Curitiba, capital do Estado do Paraná, Brasil.

O que se pode fazer para reverter esta perseguição indecente que o Lobby da Psiquiatria e familiares dos mesmos vem fazendo em cima da minha pessoa e de minha obra. Obra literária que originou o Filme " Bicho de Sete Cabeças‘, que ganhou oito prêmios internacionais, e quarenta e três prêmios nacionais. Tornou-se um dos filmes mais premiados da cinematografia brasileira. Ganhei com tudo isso menos de vinte mil reais, pagos desde o ano de 2000. Dessa grana os processos que respondi, já levaram tudo, e estou até devendo.

Mas o que se pode fazer para reverter esses processos? Quem se sensibilizar por esta causa é divulgar ao máximo este texto. Enviar e-mail, cartas, telegramas, telefonemas, abaixo-assinados repudiando essas ações e condenações impostas a mim, para o Presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, Supremo Tribunal Federal em Brasília, para O.N.Gs nacionais e internacionais. Imprensa no geral. Associações de Direitos Humanos.

Um comentário:

  1. Anônimo3/6/08

    É preocupante constatar o quanto o Judiciário exerce censura neste país. Justamente o que deveria mais defender a liberdade do ser humano.

    ResponderExcluir

Comente